21 de abr. de 2012

A Ciência e o Método Científico,

Rafael Forte Martil. Escrito originalmente para a disciplina "Conhecimento como Construção Histórico Social", 2009 - UFSCAR-EAD.

Introdução
  
Durante milhares de anos as mudanças provocadas ao meio pelo homem foram lentas e graduais. no entanto, nos últimos cinco séculos, a velocidade das transformações ganharam um novo ritmo, ditado pelo progresso, pelas inovações e pela ciência, retomada pelo Renascimento e o surgimento do Método Científico que estabeleceu um maior racionalismo à relação do homem com o meio. 

O progresso é ambivalente, carrega a possibilidade de um novo mundo, mais justo e igualitário, ou mesmo de sua destruição, causada por uma tecnologia indiferente à natureza do planeta. Diante dessa condição, qual postura esperar da ciência em relação às próximas décadas e séculos.

O Método Científico
O conhecimento científico pensado de forma ampla partiu em grande parte das análises de Descartes, principalmente após a publicação de o Discurso do Método, no qual descreveu o desenvolvimento de uma forma de pensar pautado a partir de critérios oriundos de áreas das ciências exatas. Nesse contexto, sujeito passa a conhecer objeto de uma forma autônoma e não emulando a realidade como pensavam alguns gregos como Platão e Aristóteles.
Assim ao estabelecer premissas que deveriam ser seguidas para que a tarefa de conhecer alguma realidade fosse alcançada garantiria uma maior eficiência da tarefa. As quatro tarefas consideradas como essências para o referido pensador seriam: não aceitar verdades pré-concebidas(1), repartir as etapas da pesquisa(2), iniciar por questões mais simples(3) e por fim, efetuar relações metódicas e complexas entre os termos analisados(4). Tais relações seguiriam relações lógicas que revolucionariam a forma de pensar ciência.
Com o desenvolvimento de novos paradigmas científico surgiram análises que concebem que verdades são apenas transitórias e se relacionam a contextos específicos; em linhas gerais houve uma passagem da física de Newton para a de Einstein[1], onde as verdades absolutas deram lugar a diversas interpretações, já que a realidade passou a ser entendida de forma a se considerar a relatividade da relação sujeito objeto. Além do fato de que alguns conceitos foram colocados como incompreensíveis para a capacidade humana, visto a infinitude do universo.
Negar a importância da ciência para a sociedade é como descartar a importância do estudo sistematizado em prol de um conhecimento baseado no senso comum.
O uso de tais métodos concretizou-se no grande sonho humano de aumentar a produtividade a partir de uma percepção crítica da realidade e de um modelo cada vez mais voltado para a eficiência do objetivo.
Para tanto é necessário considerar alguns novos elementos que se agrupam tornando a realidade mais complexa, o que torna necessário uma múltipla especialização ou um recorte cada vez mais pontual do objeto, o que causa uma espécie de alienação coletiva, já que as partes cada vez se fragmentam dificultando assim o entendimento dos diversos elementos que constituem o todo, o que pontualmente se entende a partir da premissa de Descartes de dividir as tarefas para um análise e descrição do objeto.
As supostas ciências assim se definiram por possuírem um cabedal de elementos que as diferenciaram no decorrer do tempo de superstições e crendices não pautadas por elementos lógicos. No caso das Ciências Humanas que engloba o curso de Pedagogia devemos pensar sua especificidade em relação ao objeto, no caso o homem, nesse sentido não devemos desconsiderar que um método científico não pode desconsiderar em suas premissas e metodologias essa considerável especificidade, além das ideologias e do contexto cultural que inviabilizam uma análise do ponto de vista apenas biológico; além do perigo de distanciarmos do ambiente do qual fazemos parte. 

Um caminho
A posição do polêmico livro “O Ponto de Mutação” de Fritjof Capra é a de que a sociedade moderna influenciada pelo modelo cartesiano de ciência desconsideraria a relação com o todo, como pensar diversos aspectos constituintes da realidade desconsiderando a relação com meio ambiente, no que intitula de teoria holística. Nessa crítica podemos entender que o Método Científico deve ser percebido como uma possibilidade intimamente ligada ao ponto de vista do observador, principalmente a partir de seu posicionamento ideológico.

Conclusão
Considerando o caráter transitório da verdade e que ela só pode ser entendida a partir de uma estrutura específica que ainda gera múltiplas interpretações, não devemos considerar a ciência como substituta da filosofia e da religião visto que seu estatuto e concepções se afastam dessas consideravelmente. Nem devemos tratar conhecimento como uma cruzada contra as superstições, mas sim uma ciência pautada em métodos e premissas que considera sua relação com o todo e com o fato de sermos humanos e não máquinas que atendem a uma estrutura de causa e efeito. A ciência e o método científico não podem responder todos os problemas e relações do homem com o mundo, mas serve de importante instrumento para entender o mundo que nos rodeia.
Por fim, pensar ciência no mundo atual é buscar uma visão que contemple tanto desenvolvimento científico quanto uma visão que possibilite sustentabilidade do planeta e das diversas espécies, uma visão dissociada pode causar uma destruição de recursos desproporcional, como ocorrido no decorrer do século XX, um século marcado por conflitos entre diversas nações, onde a tecnologia foi usada de forma desumana, como a morte de aproximadamente 50 milhões de pessoas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A ciência deve ser humanizada, deve ser crítica, levar a objetividade, não se esquecendo que em última análise a ciência é um instrumento a racionalizar o meio, facilitando as relações humanas.
 





[1] Tal idéia pode ser encontrada no Artigo citado na Bibliografia intitulado: Uma revisão/Discussão sobre filosofia da ciência.

Referências Bibliográficas.

DAWKINS,  R.  O  Rio  que  saía  do  Éden.  Rio  de  Janeiro:  Rocco,  1996. Coleção Ciência Atual.

CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo,1982. Pensamento Cultrix E.

DESCARTES, R. Discurso do Método. São Paulo, 1979: Abril Cultural.

FRANCELIN, Marivalde Moacir. Ciência, senso comum e revoluções científicas: ressonâncias e paradoxos. Ci. Inf.,  Brasília,  v. 33,  n. 3, Dec.  2004 .  Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S01009652004000300004&lng=en&nrm=iso>. Acessado no dia  28 de Novembro de  2009.

FURLAN, Reinaldo. Uma revisão/discussão sobre a filosofia da ciência. Paidéia,  Ribeirão Preto,  v. 12,  n. 24,   2002 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X2002000300002&lng=en&nrm=iso>. Acessado no dia  27  Novembro  2009

MAAMARI, Adriana Mattar. Conhecimento,  linguagem e  legitimação no  processo de aprendizagem acadêmico-científica.

Filmografia: 

MATRIX, dirigido por Andy e Larry Wachovski, 1999.


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